Diário do Nordeste CINEMA Oiticica: o delírio e a história 07.08.2014 Documentário sobre o artista plástico Hélio Oiticica estreia hoje (7), em Fortaleza, dentro da programação do "Conversa de Cinema", no CDMAC

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#guaramiranga 07 DE AGOSTO DE 2014
César Oiticica Filho tinha dois ou três anos quando estabeleceu os primeiros contatos com o tio Hélio, artista plástico carioca de aspirações anarquistas - um dos mais revolucionários de seu tempo. O contato rápido, porém intenso, foi um dos indicativos para que o sobrinho desenvolvesse, depois de mais de 20 anos da morte de Oiticica, um documentário, ou, como prefere apresentar, um filme experimental sobre o artista.

Vencedor do prêmio da crítica internacional na seção Fórum do Festival de Berlim 2013, o resultado desse experimento será exibido hoje (7), às 19h30, no Cinema do Dragão - Fundação Joaquim Nabuco.

A programação do "Conversa de Cinema" inclui um debate com o diretor César Oiticica Filho, que irá compartilhar com o público a experiência de produzir o filme. Os 94 minutos de "Hélio Oiticica" propõe aos espectadores, tal como teorizava o homenageado, uma experiência suprassenssorial. Assisti-lo é atingir a percepção do participador, investigando possibilidades de dilatação das próprias capacidades sensoriais. Uma "suprassensação" semelhante, talvez, à causada pelo efeito de alucinógenos ou pelo êxtase do samba que ele mesmo fazia questão de vivenciar.

Por meio de entrevistas e de um farto material de arquivo - áudios, filmes em super-8, fotos e colagens, o trabalho conduz a uma imersão radical nesse universo do artista, ambientado pela arte de vanguarda dos anos 1960 e 1970.

Assim, sem introdução ou narrativas explicativas, mergulha-se em falas do próprio Hélio Oiticica, contando sua vida e descrevendo suas buscas artísticas por meio de diálogos (os chamados "héliotapes"), realizados com colegas intelectuais, como Haroldo de Campos. Além disso, a presença de Oiticica também se faz visual, em trechos de filmes em que ele atuou, tais como "Câncer", de Glauber Rocha, e "Uma vez Flamengo", de Ricardo Solberg.

Estrutura

Por meio de vários blocos, tal como pílulas, o filme pode ser compreendido mesmo sem apresentar a estrutura narrativa básica de uma biografia.

É assim que, naturalmente, o espectador toma conhecimento das experiências de Oiticica, que nunca se intimidou em sair das fronteiras da zona sul carioca, rumo aos morros e favelas da zona norte, convivendo com figuras consideradas marginais.

Descobre-se, dessa forma, os caminhos que o levaram a romper as barreiras da escultura e da pintura, em direção aos "penetráveis" (instalações), dentre os quais merece destaque aquele que deu nome ao movimento Tropicália, e "parangolés", espécies de capas que desvelam suas formas apenas com o movimento do bailarino que a veste.

A proposta de velocidade do filme também transmite aquilo que o artista é. "Com sequências rápidas, fotografia animada e stop motion, procura-se dar vazão ao que Hélio fazia não só através da reprodução, mas do próprio desenvolvimento dos conceitos dele", destaca o diretor César Oiticica. Dessa forma, recupera-se com louvor o contato com o estado de invenção de Hélio,um anarquista por vontade e hereditariedade.

Abstrações

Alguns estudos e obras de Hélio Oiticica compõem a exposição "Abstrações - Coleção Fundação Edson Queiroz e Coleção Roberto Marinho", em cartaz no Espaço Cultural Unifor até janeiro de 2015. Com curadoria de Lauro Cavalcanti, a mostra reúne 169 obras dos acervos da Coleção Roberto Marinho e da Fundação Edson Queiroz a fim de levar ao público um dos mais completos panoramas de arte abstrata brasileira já estruturados no País.

Da Fundação Edson Queiroz provém os trabalhos de Oiticica. Destacam-se os estudos que o então jovem artista neoconcretista chamou de "metaesquemas".

Produzidos entre os anos de 1957 e 1958 com tinta guache em papel cartão, os metaesquemas logo se transformariam em protótipos de obras em terceira dimensão, como os "bilaterais" e os "relevos espaciais" (1959), elaborados em grandes proporções.

Mais informações:
Exibição de documentário "Hélio Oiticica", seguida de debate com o diretor Cesar Oiticica Filho. Às 19 horas, na Sala 2 do Cinema do Dragão - Fundaj (Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema). Contato: (85) 3219.5897

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