Quem nunca sentiu o mau cheiro que parece sair de dentro do mar vizinho à avenida Presidente Castelo Branco (Leste-Oeste)? O odor, mesmo não sendo resultado de poluição na água, traz à tona um problema: a falta de esgotamento sanitário de Fortaleza.
Com 43% do território sem cobertura de esgoto, a Capital poderá nunca ter 100% de balneabilidade da orla. Conforme Jorge André Verçosa, gerente da Célula de Controle de Efluentes da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), serão precisos pelo menos 100 anos para que a orla esteja totalmente balneável. Para isso, o Plano Municipal de Saneamento está sendo executado, com perspectivas de universalização do serviço até 2033. A Cagece diz que meta chegará mais cedo: em 2023.
Diariamente, 24 galerias pluviais levam, além de água, coliformes fecais, vírus, bactérias e até metais pesados para o mar. O sistema de dutos subterrâneos destinados à captação e ao escoamento da chuva está corrompido por inúmeras ligações clandestinas de esgoto. A irregularidade é combatida, mas ainda não impacta na qualidade da água do mar. Em 2014, apenas 11 imóveis, entre a Praia do Futuro e a Barra do Ceará, foram autuados pela Seuma.
O tamponamento das ligações, previsto pelo órgão através do projeto Águas da Cidade para 2013, sequer saiu do papel. O objetivo é percorrer as galerias, saber onde elas começam e terminam, onde se interligam, o que transportam e quem as obstruiu. Jorge André Verçosa explica que uma licitação para contratar empresa que executará o serviço foi feita, mas fracassou. “Em aproximadamente um mês e meio devemos lançar nova licitação”, afirma.
Litoral Oeste
O Litoral Oeste da Capital, onde está a maior parte da periferia à beira-mar, é o que mais sofre com a poluição. É nesse território, em frente ao projeto Vila do Mar, que estão 2.278 residências que, em sua maioria, não possuem esgotamento sanitário. Em um dos imóveis, a doméstica Raimundo Alfredo Lima, 59, via a filha se banhar na calçada e contava que, nos 30 anos em que mora ali, nunca soube o que era esgoto. “Aqui tinha fossa, mas acho que já encheu faz é tempo. Hoje sai tudo aí pela rua”, detalha.
Gerente de análise e monitoramento da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Lincoln Davi confirmou que a área litorânea a partir do bairro Moura Brasil até a Barra do Ceará é a mais poluída. “É um setor que a gente observa galerias com vazamentos e entradas de esgoto”, diz. Na última avaliação da orla feita pelo órgão, há uma semana, dos 31 pontos monitorados, dez estavam impróprios para banho - todos no Litoral Oeste.
Saiba mais
A Cagece afirma que 100% da orla marítima da Capital é coberta com rede de esgoto, “com exceção de áreas irregulares”.
As fiscalizações são feitas em conjunto entre Seuma e Cagece. Para constatar a ligação clandestina no imóvel, é colocado cal no aparelho sanitário e é dada descarga.
Se a caixa de inspeção dos sistema de esgoto estiver com água branca, o imóvel está regular.
O odor ao longo da Leste-Oeste é resultado da emissão de gases da Estação de Pré-Condicionamento de Esgoto que trata todo o esgoto produzido na Cidade e o direciona para o sistema de emissário submarino.
Fiscalizações e autuações, segundo números da Seuma e da Cagece: 2007 (1.320 vistoriados e 13 autuados), 2008 (4.911 e 35), 2009 (4.015 e 61), 2010 (5.085 e 25), 2011 (2.310 e 37), 2012 (444 e 21), 2013 (991 e 12) e 2014 (450 e 11).
Serviço
Seuma: (85) 3452 6927 e (85) 3452 6923
Semace: (85) 3101 5580
Cagece: 0800 275 0195 e (85) 3101 1742
Segundo gerente da Semace, área litorânea entre o Moura Brasil e a Barra do Ceará (foto) é a mais poluída