Diário do Nordeste MOBILIDADE Sucesso dos bolsões inspira novas ações para o transporte coletivo 14.07.2014 Trezentas mil pessoas foram ao Castelão de ônibus, mostrando que é viável deixar o carro particular em casa

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#guaramiranga 14 DE JULHO DE 2014
Mais do que a taça que não foi conquistada e as obras de mobilidade urbana, um dos maiores legados que a Copa do Mundo 2014 pode deixar para o Brasil e, em especial, Fortaleza, é a efetiva prioridade para o transporte público. De acordo com os presidentes da Empresa de Transporte Urbano (Etufor), Antônio Ferreira, e da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC), Victor Ciasca, o plano de mobilidade da competição demonstrou claramente que, se bem planejada e executada, a opção de deixar o carro particular em casa e usar o sistema de transporte coletivo é bem viável e possível.

"Os bolsões de ônibus foram um sucesso. Nos seis jogos do Castelão, 300 mil torcedores utilizaram o sistema com tranquilidade, conforto e rapidez, o que foi elogiado pelos próprios passageiros e comprovou que dá certo", destaca Ferreira. Por conta disso, diz, a Prefeitura deve utilizar o mesmo sistema em grandes eventos como Revéillon e shows internacionais.

Corredores

Além disso, os corredores exclusivos de ônibus devem ser ampliados. Um deles deve começar a operar neste ano com o percurso Antônio Bezerra/Centro. "Neste caso, os ônibus serão articulados e maiores, com capacidade para 150 passageiros, com ar condicionado e câmbio automático, o que oferecerá mais conforto ainda", adianta Ferreira.

Outro corredor em planejamento é o do Messejana/Centro, pela BR-116. "Também contará com ônibus modernos e articulados. Com isso, estamos aplicando o que foi aprendido e desenvolvido na Copa das Confederações e do Mundo, incentivando a migração do carro particular para o transporte coletivo", frisou.

A meta, assegura Antônio Ferreira, é implantar em Fortaleza até 2016, 131,5 quilômetros de corredores expressos para transporte público, incluindo as vias já em obras e os novos corredores que terão investimento do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2). Entre as vias que serão beneficiadas com a implantação do BRT, estão as avenidas Presidente Castello Branco, Raul Barbosa, Vital Brasil, Aguanambi e Perimetral.

Uma das vantagens, afirma, é facilitar o escoamento do tráfego. "Esses corredores vão aliviar, pois facilitam o escoamento e melhoram o trânsito. Além disso, precisamos incentivar a população a optar pelo transporte público", diz

Ciasco destacou o plano de mobilidade. Para ele, o modal coletivo, quando priorizado pelo poder público, oferece mais rapidez e conforto ao usuário, e é o escolhido pela população.

Leia amanhã: O legado subjetivo da Copa

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Contato intercultural e gente nas ruas elevaram autoestima e confiança da população

A Copa do Mundo é um dos eventos de abrangência transnacional mais importantes da atualidade. Tendo sido uma das capitais brasileiras sedes deste megaevento, Fortaleza atraiu turistas de todos os continentes e viveu dias de grande movimentação. Não foram só estrangeiros ou pessoas residentes em outras cidades do País que experimentaram a cidade de modo intenso, também a população local marcou presença nos espaços públicos, mostrando-se alegre e receptiva.

Apesar das críticas que foram feitas à organização, a Copa deixou um importante legado imaterial para Fortaleza. Além de ter promovido uma singular e abrangente experiência de contato intercultural, trouxe "lições" importantes para o planejamento urbano e a segurança pública. Estiveram lado a lado, ora concordando, ora divergindo na torcida e no grito de gol, pessoas de variadas nacionalidades, idiomas, pertencimentos religiosos, faixas etárias e níveis de renda. Mesmo diante de tantos "marcadores de diferença" e elevado consumo de álcool, foi baixa a incidência de conflitos e ocorrências policiais entre os conviventes. É verdade que não foi registrada redução nos índices de homicídio em Fortaleza no período, mas houve melhoras na sensação de segurança em alguns bairros.
O interesse da população em "viver a cidade", não resultou apenas do investimento em policiamento ostensivo, está relacionado também a uma atmosfera de efervescência e confraternização social. Sediar a Copa nos permitiu experimentar uma cidade com pedestres nas ruas, transporte públicos funcionando bem, vias públicas iluminadas, policiais atenciosos e solícitos. Tudo isso incentiva a população sair do isolamento causado pela violência urbana, desenvolvendo sentimento de pertença à cidade. Fluxo de pessoas e equipamentos urbanos básicos são relevantes para pensar e planejar a segurança pública. Ruas desertas e mal iluminadas, transportes públicos deficientes, bem como abordagens policiais violentas constroem uma atmosfera de abandono e precariedade, causa insegurança.
Há alguns meses, o cenário de uma cidade sitiada pelo crime violento vinha monopolizando noticiários e conversas cotidianas. Os acontecimentos e manchetes associados à Copa vieram atenuar a visibilidade da violência urbana, deslocando o interesse da população para outros temas e vivências. Com o encerramento do evento em Fortaleza, fica para a população e os gestores o desafio de dar continuidade às experiências positivas de interação social, usufruindo de espaços e serviços públicos, e o mais importante: fazer esta sociabilidade transbordar do circuito turístico.

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